A escola do futuro

A escola do futuro

Por: Professor João Ferrer

 

Ao ler Nóvoa, que cita David Tyack numa frase bem conhecida: The one best system, “o único melhor sistema”, relativamente à única maneira de educar as crianças, a escola, faz-nos pensar que no século XIX, aparece a escola obrigatória, que se constitui como uma instituição central na afirmação dos Estados-nação. Depois a “escola de massas” que transforma as sociedades ao longo do século XX tira as crianças e os jovens do trabalho. E agora?  A escola do futuro como será? Nóvoa apresenta três cenários: O primeiro cenário aponta para o regresso a formas de educação familiar; o segundo cenário baseia-se também na definição da educação como “bem privado” e o terceiro cenário alicerça-se na importância das novas tecnologias.

 

Será a escola do futuro uma escola sem livros em papel? A escola do futuro será uma escola do estilo videogame? Haverá vídeos dos rostos dos alunos para analisar sua concentração em tempo real? Será uma escola algorítmica onde os dados permitirão analisar o desempenho dos alunos para ajustar os programas escolares em tempo real?

 

Uma escola sem professores? Na escola do futuro, a inteligência artificial poderá permitir personalizar o ensino e adaptá-lo às faculdades de inteligência e apreensão de cada um (aprendizagem adaptativa). Os ensinamentos digitais podem até ser, um dia (longe), transmitidos por implantes cerebrais. Isso significa que a escola do futuro poderia prescindir de professores? É certo que é difícil imaginar ensinar sem o vínculo afectivo essencial com os alunos. No entanto, o papel dos professores pode ser profundamente transformado.

 

Uma escola sem escola? E se a escola do futuro ficasse totalmente sem escola? Poderia ser descentralizado, fora dos muros, como já estamos vendo com os MOOCs (cursos massivos online). Os cursos aconteceriam em fablabs, no meio da natureza ou em casa. Os alunos podem ir à escola apenas ocasionalmente para participar de projectos em grupo, mas não todos os dias. Os professores de holograma podem ensinar à distância, especialmente para alunos doentes ou deficientes que não podem ir às aulas.

 

A escola sempre foi um vasto objecto de fantasias ligadas à tecnologia e, mesmo que muitas transformações estejam por vir, parece muito difícil saber como realmente será.

 

Os Sete Conhecimentos Necessários para a Educação do Futuro é um livro de Edgar Morin em que o autor propõe, a convite da UNESCO, as modificações que julga necessárias no ensino para melhor adaptá-lo à complexidade do mundo moderno. Morin oferece uma abordagem transdisciplinar essencial se quisermos ajudar os alunos a compreender os problemas contemporâneos em toda a sua globalidade e complexidade e o que será o futuro. A escola atual, com a modernidade, tende a fragmentar e compartimentar o conhecimento, bem como a autonomizar as técnicas em relação às preocupações existenciais e humanas. Morin, ao contrário, recomenda vincular conhecimentos dispersos em cada disciplina (seu conceito de dependência) para "ensinar a condição humana e a identidade terrena", o que teria também a vantagem de desenvolver no aluno as faculdades de compreender os outros. Ao invés de reduzir a educação à transmissão do conhecimento estabelecido, numa concepção muitas vezes determinista da evolução das sociedades, ele considera preferível explicar o que chama de “ecologia da ação”, “o modo de produção do conhecimento”, ou mesmo o “saber do saber”.

 

A partir de uma visão cósmica da aventura humana, onde a criação e o acaso desempenham um papel essencial, ele propõe uma complexa filosofia da "condição humana" que deve servir de fundamento para a identidade terrena da Humanidade. Esta identidade integra preocupações ecológicas e humanistas.

 

Com esta obra, Edgar Morin vislumbra um projecto de fundamentação filosófica e pedagógica para a educação em escala global. Este livro não trata de todos os assuntos, mas expõe “Os Sete Conhecimentos Necessários para a Educação do Futuro”, os mais necessários para ensinar que permanecem totalmente ignorados ou esquecidos e na verdade não se trata nem de MOOCs nem aconteceriam em fablabs. Gosto mais do caminho que nos indica Edgar Morin.

 

João Ferrer