A Escola Portuguesa do Século XXI - da escola que temos à escola que queremos...

A Escola Portuguesa do Século XXI - da escola que temos à escola que queremos...

Por: Professora Ana Rosa

 

 

 

Docentes portadores de deficiência podem ter o seu posto de trabalho adaptado às suas necessidades?

 

As sociedades atuais são cada vez mais complexas. O tempo em que vivemos carateriza-se por um ritmo vertiginoso de mudança. Mudanças sociais, culturais e tecnológicas afetaram e continuam a afetar, de forma intensa, a sociedade em que vivemos. Novos valores originaram novos problemas que juntamente com as incertezas próprias de uma época de mudança constituem caraterísticas de uma sociedade em que o conhecimento determinará o modo como cada indivíduo poderá intervir.

 

Educadores, professores, académicos, políticos, de um modo geral, parecem concordar que estamos perante uma crise da educação e poucos duvidarão da sua extensão e gravidade. Apesar de esta crise afetar a cultura, em geral, e a instituição educativa e o discurso pedagógico, em particular, consideramos que a educação não pode prescindir dos valores. A crise não é apenas consequência da situação económico-social, da inadequação das estruturas educativas às novas necessidades e exigências tecnológicas e sociais e da insuficiência de meios. É consensual esta ideia de crise de valores, cujas manifestações mais visíveis são as condutas de matriz individualista, a não solidariedade, a intolerância e a agressividade. Estamos perante uma crise de sentido, crise na relação da educação com os valores e com o ser humano. A nossa visão de mundo, depende muito do mundo, mas depende muito mais da nossa visão, da nossa perspetiva.

 

A urgência em repensar a educação e o seu papel no nosso mundo em acelerada mudança, surge do reconhecimento da importância da educação inicial e contínua do saber e das aprendizagens do aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser, que constituem os pilares que devem alicerçar e nortear as aprendizagens do ser humano ao longo da vida e que devem ser considerados como condições imprescindíveis para que a educação seja apreciada como “um valor urgente e vital perante um mundo complexo e não isento de ameaças ao próprio reconhecimento dos direitos de cidadania a quem nele habita”.

 

A educação não poderá cultivar os direitos do Homem, a paz e a democracia se não adoptar, de um modo crítico, os seus valores intrínsecos.

 

Se pretendermos, verdadeiramente, vencer a crise social na qual mergulhamos teremos de fazer a nossa parte, teremos de mobilizar as nossas energias físicas, mentais e emocionais nesta tarefa. Cada um oferecendo o melhor de si em prol de todos. Torna-se, assim, fundamental que a educação comece a preocupar-se em acompanhar essa evolução de forma a dar resposta às necessidades crescentes e ser capaz de enfrentar os novos desafios.

 

Cabe à escola a responsabilidade de gerir os recursos humanos e materiais de forma a dar resposta aos docentes que enfrentam limitações físicas e ter presente que o êxito e a eficácia de qualquer medida que venha a ser empreendida depende, em grande parte da capacidade de envolvimento dos professores.

 

Várias reformas têm sido implementadas no sistema de ensino, sem que se tenha conseguido chegar a um patamar de qualidade reconhecido por todos. Esta questão tem vindo a acentuar com as novas regras da mobilidade por doença, a preocupação com a avaliação no ensino, bem como, a aposentação de tantos professores.

 

Incluir implica muitas mudanças. Como docente do 1.o Ciclo do Ensino Básico, pretendo contribuir de forma construtiva, por pouco que seja, para atenuar e melhorar esta temática da Inclusividade Educativa e acrescento desde já uma nota: os saberes só unem e só libertam se forem ensinados como cultura, se forem trabalhados a partir da sua história e se forem apropriados através de uma dinâmica própria de cada um. Eu tentarei dar o meu melhor contributo. O mais importante e indiscutível, é a necessidade de adaptar os métodos de ensino às características e condições de cada um.

 

É urgente que revejam as nossas funções e pedir às entidades empregadoras que promovam a adoção de medidas adequadas para que docentes com incapacidade tenham acesso a uma função na escola que consigam exercer ou solicitem junto do Ministério da Educação a autorização para exercer uma outra função nos Agrupamentos de Escola onde os direitos das pessoas portadoras de deficiência em Portugal sejam atendidos na questão de poder ter ou não um trabalho adaptado às suas necessidades, pois é minha intenção retomar à vida ativa, mas para isso, é necessário que sejam adaptadas funções às minhas atuais limitações resultantes do meu problema de saúde diagnosticado em 2020 que me causaram limitações que têm maior impacto na minha qualidade de vida causando limitações funcionais na minha prática diária.

 

Eu desfoquei-me por completo, com a minha doença, com as minhas dores, com o que a vida me tirou de sonhos e expectativas. Agora tento diariamente refocar, porque infelizmente o mundo eu pouco ou nada o posso mudar, assim como pouco posso mudar na minha doença que deixou marcas, que se fazem sentir a vários níveis: pessoal, profissional e emocional.

 

Cada um deve ter o seu foco, o seu sentido de vida. O meu foco atualmente vem dos meus afetos e das minhas emoções, vem de um mundo que vi e senti, e que gostaria de acrescentar alegrias ao longo dos meus 20 anos de serviço.

 

Sinto que apesar da minha doença, posso contribuir para que a minha felicidade, vem da felicidade que posso acrescentar aos outros, ou seja, tocar na vida de alguém, dar- lhe um sorriso, aquecer-lhe o coração, pôr-lhe os olhos a brilhar e quem sabe ir resgatar alguém ao fundo do mar, como outros fizeram comigo. A minha doença tirou-me muito, tirou-me quase tudo, mas não me tirou os afetos e as emoções.

 

É da responsabilidade da Escola procurar recursos, encontrar estratégias diversificadas, promover o dinamismo e elaborar um projeto curricular flexível que vá ao encontro das necessidades, capacidades e interesses de todos aqueles que participam na vida da Escola, o que leva à concretização dos objetivos fundamentais de uma escola designada para “Todos” e ter presente que “o êxito e a eficácia de qualquer medida que venha a ser empreendida depende, em grande parte da capacidade de envolvimento dos professores” (Sil, 2004, p.16).

 

Acredita-se que sair da zona de conforto seja a mais relevante. É preciso sair da zona de conforto para aceitar aquele docente que é diferente do outro. É preciso sair da zona de conforto para estabelecer um vínculo com alguém que comunica de uma forma diferente da nossa.

 

A Escola deve ser perspetivada para “Todos”, sem limites, nem exceções. Deve tratar “Todos” com a mesma dignidade e respeito, no sentido de proporcionar a todos oportunidades educativas, respeitando o ritmo de desenvolvimento/trabalho que lhe são próprios.

 

A igualdade de oportunidades não é, senão, a criação de condições que assegurem a todos a dignificação social e a maximização da valorização pessoal.

 

A Escola Inclusiva é, sem dúvida, um dos maiores desafios para a educação nas últimas décadas, um imperativo ético, moral e cívico.

 

A dimensão social presente na educação não se pode esquecer e a Escola tem de alargar o seu papel a uma formação integradora, geradora de um desenvolvimento harmonioso e de uma real educação. O tal caminho... o da bondade, e da integridade que são as maiores riquezas que podemos almejar conquistar...e eu enquanto docente vou à luta, fazer por merecer.

 

Talvez nunca mais venha a conseguir voltar a lecionar nas condições que o fazia até agora, o que me parte o coração em pedacinhos, mas posso contribuir dentro das minhas condicionantes e capacidades e ter um posto de trabalho adaptado.

 

Irei continuar a lutar pelos meus direitos, pelas vozes que trago no meu coração, e pelas promessas que outrora fiz a mim mesma quando estava na minha versão mais bonita. Vale a pena viver por algo que nos inspira, o meu sentido de vida, sabendo que até posso não conseguir, é SER FELIZ e FAZER OUTROS FELIZES.

Ana Rosa