A falta de Professores será um problema dramático para o país

A falta de Professores será um problema dramático para o país.

Por: Professor Rui Pereira

 

Os sucessivos governos não têm dado importância e as oposições não encaram este assunto como fundamental e estratégico nas suas agendas políticas.


Estamos a falar dos Professores e da sua função fundamental no papel educativo e formativo das nossas crianças e jovens.


Estamos no terceiro período letivo e há zonas do país onde os alunos não tiveram uma única aula de algumas disciplinas. Esta é uma realidade e a falta de professores nas escolas, começa a constituir uma situação dramática e insustentável a curto prazo.


O anterior ministro da educação ora negou esta realidade, ora disse que a culpa é da pandemia, mas a realidade é outra e este é um problema gravíssimo em termos do desenvolvimento do país, que se arrasta há vários anos.
Efetivamente, a falta de atratividade da profissão e o envelhecimento do corpo docente são problemas que afetam o ensino há vários anos.


A precariedade é uma das causas para a falta de atratividade da profissão de docente que enfrenta ainda um problema de envelhecimento. Até 2030, cerca de 80% dos docentes vão reformar-se.


Fazendo uma análise rápida a números, e tendo por base os dados PORDATA de 2020, em 2008 tínhamos 17.600 educadores e professores do Pré-Escolar e passados 10 anos eram apenas 16.000.


No 1º CEB eram 35.000 em 2008 e em 2018 apenas 30.000.


Já no 2º CEB – 5º e 6º ano – em 2008 havia 34.000 Professores e volvidos 10 anos era apenas 24.000, ou seja, menos 10.000 docentes.


Já no 3º CEB – 7.º, 8.º e 9.º ano e Secundário – 10.º ao 12.º ano, a redução foi de 13.000 docentes. Passamos de 89.000 em 2008 para 76.000 em 2018.


Em 10 anos perdemos 29.000 Professores! A redução foi de 17% no n.º de docentes.


Nestes ciclos de ensino, em 2008 havia 1.808.000 alunos e volvidos 10 anos eram cerca de 1.634.000, ou seja, houve uma perda de 174.000 alunos, o que representa cerca de 10%.


Em 10 anos perdemos 17% de Professores e 10% de Alunos, o que atesta o desinvestimento que houve na educação. As medidas adotadas nos últimos anos tiveram preocupações financeiras e económicas, sendo que as pedagógicas ficaram para segundo plano, a começar pelo aumento do n.º de alunos por turma.


Só há uma forma de ultrapassar este problema: dignificar e valorizar a função de professor, particularmente no ensino básico e secundário.


Um professor no topo da carreira, e são muito poucos que lá chegam, ganha praticamente o mesmo, senão menos do que um juiz que inicia a carreira. Recentemente o governo decidiu aumentar os juízes e procuradores. Enquanto isso os professores continuam atolados em processos burocráticos e infindáveis de avaliação do desempenho e progressão da carreira.


Há outro âmbito que é urgente repensar a estratégia nacional neste domínio e que passa pela formação inicial dos Professores.


As médias das entradas nas faculdades dos cursos via ensino são as mais baixas, o que faz com que apenas os alunos com menos capacidades, quando não existe vocação, acabem por procurar esses mesmos cursos.
Ou seja, numa linguagem direta, só vão para os cursos via ensino, ou seja, para abraçar a carreia de Professor, os alunos com médias mais baixas. E o futuro do ensino em Portugal, nos níveis básico, estará entregue a curto prazo a estes alunos.


Só uma grande valorização e reconhecimento da profissão poderá levar a que os melhores alunos escolham ser Professores!


É, pois, muito urgente repensar tudo isto. Desde a formação inicial dos Professores, à valorização da função e da carreira do Professor, sob pena de as desigualdades serem cada vez maiores entre o litoral e o interior, entre as escolas das cidades e da periferia, entre as escolas públicas e privadas.


E esta estratégia é ainda mais urgente e necessária quando a educação é fundamental para o progresso e evolução civilizacional das populações.
Portugal não pode ficar para trás!

Rui Pereira